quinta-feira, 15 de março de 2012

Uso certeauniano da secretária eletrônica de uma escola

MENSAGEM CRIATIVA DE UMA ESCOLA DA CALIFÓRNIA

Esta é a mensagem que os professores de uma escola da Califórnia decidiram gravar na secretária eletrônica. A escola cobra responsabilidade dos alunos e dos pais perante as faltas e trabalhos de casa e, por isso, ela e os professores estão sendo processados por pais que querem que seus filhos sejam aprovados mesmo com muitas faltas e sem fazer os trabalhos escolares.

Observem o uso diferenciado que os usuários estão fazendo da secretária eletrônica. Isto é uma das artes de fazer o cotidiano.

Eis a mensagem gravada:

"Olá! Para que possamos ajudá-lo, por favor, ouça todas as opções:

─ Para mentir sobre o motivo das faltas do seu filho - tecle 1.
─ Para dar uma desculpa por seu filho não ter feito o trabalho de casa - tecle 2.
─ Para se queixar sobre o que nós fazemos - tecle 3.
─ Para insultar os professores - tecle 4.
─ Para saber por que não foi informado sobre o que consta no boletim do seu filho ou em diversos documentos que lhe enviamos - tecle 5.
─ Se quiser que criemos o seu filho - tecle 6.
─ Se quiser agarrar, esbofetear ou agredir alguém - tecle 7.
─ Para pedir um professor novo pela terceira vez este ano - tecle 8.
─ Para se queixar do transporte escolar - tecle 9.
─ Para se queixar da alimentação fornecida pela escola - tecle 0.
─ Mas se você já compreendeu que este é um mundo real e que seu filho deve ser responsabilizado pelo próprio comportamento, pelo seu trabalho na aula, pelas tarefas de casa, e que a culpa da falta de esforço do seu filho não é culpa do professor, desligue e tenha um bom dia”!

Em tempo de produção textual de memorial, aproveito para associar o comportamento dos professores da escola acima à proposta certeauniana  e análise do cotidiano, com a citação de Marília Claret Geraes Duran, em excelente texto em que analisa reações de professores à implantação do organização do currículo em ciclos, no qual convidando-nos a problematizar práticas, criações e artes na escola, ouvindo a palavra de professoras, pensando a respeito de suas invenções, evidenciando "microdiferenças" onde tantos outros apenas percebem uniformização e conformismo".
Falar de práticas, de criações e artes da escola e de outros lugares é pensar e pesquisar o cotidiano com Michel de Certeau, cuja proposta é a de uma inversão de perspectiva, de um deslocamento da atenção: dos produtos recebidos para a criação anônima. Encontrar sentidos nas artes de fazer de professores e alunos e considerar a legitimidade dos saberes e valores que permeiam tais práticas subterrâneas do coletivo escolar, suas estratégias e táticas próprias – este o deslocamento de perspectiva presente em pesquisas do cotidiano que se ocupam das “artes de fazer” dos praticantes, na busca da compreensão de suas regras próprias e de seu  desenvolvimento (Duran, p. 115, 2007).

O link para o texto de Duran é  

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